Tendo como mote o ditado popular “mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube”, Gil Vicente escreveu esta comédia de costumes retratando o comportamento amoral da degradante sociedade da época.
Entre o «asno» e o «cavalo» do mote inicial temos Inês Pereira, a personagem principal, jovem casadoira mas exigente. O «asno» é Pêro Marques, o seu primeiro pretendente, que lhe é trazido por Lianor Vaz, alcoviteira típica da época.
Pêro Marques, morgado inculto, que nunca viu sequer uma cadeira, personifica a rusticidade. Inês recusa-o, pois pretende antes alguém que, à boa maneira da Corte, saiba fazer versos, cantar e dançar. Alguém como Brás da Mata, o segundo pretendente, que lhe é trazido por dois judeus casamenteiros.
Contudo, consumado o casamento, Brás da Mata, revela ser tirano, proibindo-a até de ir à janela e de cantar dentro de casa.
Encerrada em sua própria casa, Inês encontra sua desgraça. Mas a desventura dura pouco, pois Brás da Mata torna-se cavaleiro e parte para a guerra, onde morre às mãos de um mouro.
Viúva e mais experiente, Inês aceita agora casar-se com Pêro Marques. Aproveitando-se da ingenuidade deste, trai-o descaradamente quando é procurada por um Ermitão, que fora seu antigo apaixonado.
Marcam um encontro na ermida e Inês exige que o marido a leve ao encontro do Ermitão. Para atravessar um rio que existe no meio do caminho, Pêro carrega a mulher às costas enquanto esta vai cantando uma canção alusiva à sua infidelidade e à mansidão do marido. Consuma-se assim o tema do ditado popular, “Mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube”.